Altar para o Divino Espírito Santo e Santíssima Trindade montado durante o ciclo do Marabaixo 2019.  Foto: Thales Lima

Reportagem: Thales Lima

O objetivo da publicação é desconstruir preconceitos e revelar especificidades tanto do ensino como da prática religiosa na Região Norte

Diversos artigos de pesquisadores da Amazônia compõem a coleção de livros que detalham as características e dificuldades do ensino religioso na Amazônia. A coleção também aproxima a ciência da religião à pedagogia, além de apontar quais os melhores mecanismo para desenvolver a educação religiosa na região.

A coleção Estudos da Religião, organizada pelos pesquisadores Marcos Vinicius de Freitas, Sérgio Junqueira, Fernanda Cristina da Encarnação e Rosângela Siqueira, é dividido em 4 livros e busca analisar contextos do ensino religioso na Amazônia, na perspectiva da Ciência da Religião, área das ciências humanas responsável por esse estudo. O objetivo da publicação é desconstruir preconceitos e revelar especificidades tanto do ensino como da prática religiosa na região norte.

O primeiro livro da coleção chamado “Ensino Religioso na Região Norte” é divido em duas partes. Inicia fazendo um aparato histórico da religião em contexto amazônico, revelando a pluralidade e a predominância de alguns grupos religiosos. Ainda na primeira parte é destacado o crescimento de produções acadêmicas que reforça a questão do fenômeno religioso e os marcos legais que dão a identidade ao componente ensino religioso. A segunda parte do livro é trata das experiências religiosas nos estados da região norte.

O organizador da coleção, o pesquisador do Observatório da Democracia, Direitos Humanos e Políticas Públicas Marcos Vinicius de Freitas, explica que o ensino religioso possui muitos desafios no Norte e o primeiro deles está na formação do professor. “Não temos formação nos estados da Amazônia que oferte a graduação, nem formações continuadas para aqueles que já atuam como professores. É necessário fazer seminário, mesa redondas, materiais didáticos sobre o efeito do fenômeno religioso”, diz.

Ensino Religioso: um espaço para o laico

O segundo livro da coleção intitulado “Ensino Religioso: um espaço para o laico” discute como a fragilidade na garantia da laicidade no país reflete no reflete no ensino religioso. O ponto de partida para as discussões é a diversidade cultural e religiosa encontrada no Brasil e em como o sincretismo molda e caracteriza a religião praticada na Amazônia.

“Uma das especificidades é a junção dos elementos afro-indigenistas. Nas comunidades rurais você têm a associação dos elementos da tradição indígenas com os elementos afros. As festas religiosas são marcadas por esses elementos e é muito difícil você ter nítido o que é indígena e o que é africano. É muito próprio da Amazônia essa associação que isso vem de vários séculos, é uma prática sincrética que caracteriza um pouco o universo na Amazônia”, diz Freitas.

Diversidade e Cultura: novos tempos de intolerância?

No terceiro livro da coleção, Diversidade e Cultura: novos tempos de intolerância?, são aprofundadas as discussões sobre a intolerância, tanto entre os grupos religiosos, como de grupos minoritários. Mulheres, negros, LGBTs, quilombolas, amazônicos, pobres, índios, dentre outros grupos minoritários, são os principais alvos das violências simbólicas e físicas utilizando como justificativa a religião.

O preconceito é sustentado pelo fundamentalismo de alguns grupos religiosos que entendem que tudo que difere do “comportamento correto” é considerado como prática religiosa errada, demoníacas, primitivas, patológicas e desviantes.

Sobre a intolerância, o pesquisador Marcos Vinícius de Freitas Reis diz que “o campo da ciência da religião pode estudar raça, gênero, sexualidade e outros temas quando se entende a religião como fenômeno das manifestações religiosas. Dessa forma, você pode estudar como a religião interfere no gênero, nas questões de racismo-religioso, na intolerância religiosa e na sexualidade”.

Ensino Religioso X Ciência da Religião

Ensino Religioso X Ciência da Religião: práticas pedagógicas e diversidade religiosa no contexto local é o último livro da coleção e se debruçae sobre o estudo da religião como ciência. O livro chama atenção pra necessidade de abertura de espaço para estudo da religião dentro do ambiente acadêmico.

“As pessoas usam as estruturas universitárias para reproduzir o discurso oficiais e até fundamentalista das instituições religiosas. Isso faz com haja um receio das universidades em abrir para o debate. Falta também criar uma sensibilidade da área para a criação de curso”, completa Freitas.

Acompanhe outros estudos do pesquisador Marcos Vinícius Freitas aqui.