Cássia‌ ‌Hack‌, Licenciada‌ ‌(UFMT)‌ ‌e‌ ‌Mestre‌ ‌(UFSC)‌ ‌em‌ ‌Educação‌ ‌Física.‌ ‌Doutora‌ ‌em‌ ‌Educação‌ ‌(UFBA).‌ ‌Professora‌ ‌da‌ ‌Universidade‌ ‌Federal‌ ‌do‌ ‌Amapá‌ ‌(UNIFAP).‌ 

As crises do capital se repetem e se avolumam, e o fazem porque lhes são da natureza do capital para manter suas altas taxas de lucro. Assim, não são recentes ainda que crescentes. No Brasil, a crise tem sido articulada no desmonte orgulhoso da soberania com a privatização das estatais, a entrega das riquezas naturais, dos espaços estratégicos, com o aniquilamento de políticas sociais, na retirada brutal de direitos, na invenção de um direito forasteiro… da aplicação de estratégias comunicacionais, psicológicas, sociológicas e outras com fartos exemplos, inclusive na história recente.

Estratégias estas que cabem bem na frase atribuída à Ésquilo “Na guerra, a primeira vítima é a verdade”, e como uma constatação da realidade, estamos em guerra há algum tempo no Brasil, 520 anos, uma guerra que tem torturado a verdade, que a tem escondido, distorcido, falseado, pois, como na fábula, a mentira roubou as vestes da verdade.

A queda das máscaras

Daí, temos uma tal crise do coronavírus que tem desnudado patriotas, nacionalistas, gente do bem porque reflete as relações desumanizadas a que estamos submetidos. Esta crise sanitária é terrivelmente agravada justamente em decorrência do modo de produção capitalista ao qual estamos submetidos somado a perversidade do desmonte neoliberal impetrado.

As constantes chamadas à volta a uma pseudo normalidade, leia-se: explorar o trabalho e o trabalhador para a geração de lucro, funda-se, principalmente, nestes aspectos do mundo capitalista potente e a todo vapor, se possível usar esta tirada da revolução industrial, e não possibilitar o transformar das relações, de (re)humanizar o humano, de garantir condições de vida digna aos vivos desta terra assolada, aplicar as orientações sanitárias como o distanciamento social que é uma abordagem eficaz para conter novos contágios do corona vírus, para não implodir o Sistema Único de Saúde (SUS) público, aquele tão sucateado e sem investimento público, com profissionais mal remunerados, sem condições materiais suficientes e com uma carga horária de trabalho extenuante, aquele SUS, único que poder(á)ia dar conta da pandemia. Quais são as lições possíveis para depreender daí?

A volta ao obscurantismo

Enquanto isto, o governo, aquele mesmo que desdenha da ciência e que não investe, ao contrário, corta recursos da Universidade Pública, uma das únicas instituições que de fato fazem ciência no país, e que, portanto, teriam condições de propor equipamentos, substâncias, profissionais qualificados no combate, cobra das Universidades uma solução. Quais são as lições possíveis para depreender daí?

No âmbito da Universidade, é preciso, urgente e necessário, defender suas melhores características [pública, gratuita, laica, de qualidade socialmente referenciada] que lhe dão as condições de prover as melhores qualidades em sua contribuição para a humanidade. Não é possível permitir em época de pandemia, que se faça opção pelo que parece fácil, óbvio e provisório sem tratar das consequências exponencias possíveis. Como, por exemplo, aceitar a interferência do mercado da educação que se avolume com sua mercadoria a distância, vendendo seus vouchers, homescholling, e-learning, pacotes tecnológicos e expertise, nem que interfira nos procedimentos acadêmico-científicos de formação profissional, desenvolvimento da ciência e produção do conhecimento.

A importância da luta sindical

Aos Sindicatos cabe a responsabilidade que tem todos os organismos da Classe Trabalhadora, ou seja, a defesa irrestrita da vida, dos direitos e da dignidade dos trabalhadores e das trabalhadoras, mesmo daqueles que não se reconhecem como classe trabalhadora,  e, portanto, como trabalhador, como trabalhadora, em virtude da natureza do seu labor. 

Aos Sindicatos em suas Centrais Sindicais cabe estabelecer relações de diálogo com as entidades científicas e com os movimentos sociais populares, para coletivamente se dirigir ao parlamento e aos partidos políticos solidários de Classe em defesa da vida, contra todas as ofensivas – financeiras e ideológicas – à ciência e tecnologia, aos seres humanos, aos serviços públicos constitucionalmente registrados.

Revolucionar para não explorar

Cabe aglutinar a categoria para discutir, elaborar, propor, implementar formas estratégicas. Ao mesmo tempo, é necessário tomar medidas de enfrentamento do modo de produção. Não é possível naturalizar as desigualdades. Taxar as grandes fortunas, de lucros e dividendos de pessoas físicas ricas e o aumento das alíquotas dos tributos patrimoniais e sobre as maiores rendas, auditar a dívida, distribuir renda, fortalecer os serviços públicos, desenvolver e implementar mecanismos de solidariedade para garantir a vida de todos e todas! É preciso romper com a dependência e subordinação à classe dominante e àqueles que ela mantém em seu serviço e defesa. Não podemos permitir que a escolha seja entre a fome ou a morte! Não é o povo quem deve pagar a conta da crise do capital.

Quais são as lições possíveis para depreender destes tempos de pandemia em que é possível constatar que são os trabalhadores e as trabalhadoras, as universidades públicas, o SUS e demais serviços públicos são os que reúnem, fortemente, as condições de passar e superar a crise combinada [sanitária, econômica, social, política, ambiental, …]? Não é o coronavírus ou outro vírus qualquer que transformará as relações do modo de produção, se não, uma revolução da Classe Trabalhadora. 

Cuidem-se. Quem puder, fique em casa. Cada um contribuindo a partir das singularidades e condições materiais possíveis.

*O artigo não representa a opinião do Observatório da Democracia, Direitos Humanos e Políticas Públicas e tampouco da Universidade Federal do Amapá.